A Justiça argentina autorizou Ana Rita Laura Vigliatti Pretti a suprimir seu sobrenome paterno, já que tinha vergonha do pai. O delegado Valentín Milton Pretti, pai de Ana Rita, foi um dos mais cruéis ex-torturadores da última ditadura militar (1976-83). O próprio pai lhe contou, anos atrás, que havia assassinado um bebê durante o regime militar.
Este é o primeiro caso em que a Justiça acata o pedido de uma filha de um ex-torturador para modificar o sobrenome. "Sou filha de um torturador. Por isso quero mudar o sobrenome. Quero acabar com esta linhagem de mortos, já que não aceito ser herdeira desse horror. Os sobrenomes são símbolos. E o meu é um muito escuro, cheio de sangue e dor", argumentou perante a Justiça.
O pai dela faleceu em 2005 aos 72 anos. O ex-delegado jamais foi processado na Justiça por seus crimes. Em 1986, quando seria detido para julgamento, fugiu e conseguiu ficar escondido até 1987, quando foi beneficiado pela Lei de Obediência Devida, que perdoava os militares e policiais que haviam torturado e assassinado civis por ordens superiores.
Durante a ditadura os militares assassinaram mais de 30 mil civis, entre eles idosos e crianças. Os militares também seqüestraram mais de 500 bebês, filhos dos desaparecidos políticos.
Segundo a petição judicial, "ao longo de todos estes anos, ela padeceu imenso sofrimento, o que afetou sua saúde psíquica". Mais: "o peso negativo de seu sobrenome a coloca em dificuldades de ordem subjetiva para criar e sustentar relações com as pessoas ao sentir que deve permanentemente dar explicações, limpar as manchas do horror que significar seu sobrenome".
Rodney Silva
Jornalista - MTB 14.759