Por Roberto Porto,
jornalistaDe repente, não mais do que de repente, o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão foi interrompido, por onze minutos consecutivos, para a propaganda obrigatória do PDT – Partido Democrático Trabalhista. No teipe, razoavelmente bem montado, aparecem as figuras de sempre: Getúlio Vargas (1882-1954), João Goulart (1919-1976), Leonel Brizola (1922-2004) e Darcy Ribeiro (1923-1997), além do atual presidente do partido, Carlos Lupi, Miro Teixeira e Cristóvam Buarque.
As cenas são igualmente conhecidas: Getúlio discursando em São Januário, num velhíssimo Dia do Trabalho, Jango no fatídico comício da Central do Brasil em 1964 e Brizola, lenço vermelho ao pescoço, no palanque das ‘Diretas Já’. Mas o que mais me impressionou foi a insistência de Carlos Lupi na defesa do trabalhismo – e do trabalhador em geral – e na idéia da criação, pelo antigo PTB de Getúlio, da hoje quase falecida e desmoralizada Carteira Profissional.
Será que Lupi, Miro e Cristóvam não perceberam que as grandes empresas já não assinam carteiras profissionais? Será que não notaram que fazem isso para se livrar do 13º salário, férias, FGTS e indenizações? Será que nunca ouviram dizer que os novos empregados têm, obrigatoriamente, que se transformar em micro-empresas?
Ou será que em Brasília eles estão tão isolados que não se informam a respeito do que se passa no Brasil de hoje? Será que os três – importantes figuras do PDT – ignoram que a Justiça do Trabalho literalmente não existe e que poderia se chamar Injustiça do Trabalho? Ou será que ocupam cargos de comando unicamente para proteger os patrões dos cada vez mais desprotegidos trabalhadores?
Honestamente, com todo o respeito, não entendi patavinas.
No caso dos aeronautas e aeroviários da Varig, a miséria bate à porta dos que se aposentaram, acreditando na existência dos fundos de pensão. No dos jornalistas, os jornais e revistas não pagam salários e seguem circulando como se nada houvesse.
E os sindicatos? Os sindicatos gostam mesmo é de carnaval. O Sindicato dos Jornalistas do Rio passou meses preparando o bloco ‘Imprensa que eu Gamo’. Os saites da Internet para jornalistas só estão preocupados com a situação dos profissionais do Gabão, do Afeganistão e da liberdade de imprensa na Somália. Quanto à situação dos jornalistas de São Paulo e do Rio, nada.
Onde afinal nós estamos? Que trabalhismo é esse que o PDT insiste em apregoar (ou ressuscitar, seria melhor?) E que mentira é essa de que a Justiça do Trabalho defende quem trabalha?
A Justiça do Trabalho (hoje descaradamente Injustiça do Trabalho) é morosa, preguiçosa, parcial e empurra com a barriga todos os processos que lhe caem às mãos.
Vamos parar com essa hipocrisia de reviver Getúlio Vargas e falar no 13º salário instituído por Jango. Que as três figuras citadas saiam de seus luxuosos gabinetes – pagos pelo contribuinte – e venham ao Rio, por exemplo, para percorrer pessoalmente os escuros corredores da Injustiça do Trabalho.
Vão ver o que é bom para a tosse...
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O autor é jornalista há 43 anos, atualmente na ESPN Brasil. Artigo originalmente publicado no saite
Direto da Redação, editado em Miami. Leia em sua última edição, mais os seguintes artigos:
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