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NOTÍCIA

02.04.07  |     

A barbaridade do apagão aéreo - Artigo de Sonia Francine Gaspar Marmo

Por Sonia Francine Gaspar Marmo,
vereadora (PT) em São Paulo

Gente indo pra enterro.
Pra aniversário de casamento.
Por motivo de nascimento.
Indo trabalhar.
Namorar.
Voltar pra casa.
Passear.
Gente sem comer e morrendo de raiva.
Crianças chorando, adultos também.
Pernas doendo, braços pesando, cabeça estourando.
 
O purgatório dos passageiros é visível, audível, palpável, escandaloso.
O inferno dos funcionários das companhias aéreas nem sempre é compreendido.
Eles que estão lá há dias, semanas, meses vivendo nesse monstruoso stress.
E ainda apanham.
 
Mas, correndo o risco de “apanhar” também, eu agora vi uma imagem do ministro Waldir Pires, e senti muita pena.

Procurei outra palavra melhor, quis escrever “compaixão”, mas soou estranho. Fica “pena” mesmo.

80 anos de idade.

O peso de todos esses dramas sobre os ombros de um homem cansado.

Esqueça todo o resto: incompetência, sabotagem, divergências, sacanagens. Tudo que o circula agora pela cabeça dele e faz com que trave os maxilares e ranja os dentes, tenha dor de cabeça, gastrite, pressão alta, insônia.

Esqueça por instantes o governo, os militares, os parlamentares, os especialistas. As causas e os culpados.

É só um homem; um homem só.
Por que ele não larga tudo?
Por que não vai para casa?
Por um senso de dever? Para não abandonar a batalha? Não se sentir um desertor? Para não virar bode expiatório de tudo? Não parecer covarde? Não dar essa satisfação aos inimigos? Porque agora é tarde? Porque tem esperança de ver tudo resolvido e sair “por cima”?
 
Deus do céu, um homem cansado. Até onde ele agüenta?
Isso é jeito de terminar a vida?
Penso nos filhos dele, nos netos, noras, genros (sei lá como é sua família). Que preocupação, que sofrimento; como será que estão agora? Será que ele tem vergonha deles?
 
As vítimas diretas e indiretas do caos aéreo sofrem uma barbaridade. Somando todo o tempo perdido, quantos anos de vida já terão transcorrido nesses atrasos absurdos? Imagine o ministro sofrendo por todos eles... Amaldiçoado por tanta gente. Imagine a aflição, a tensão, o desespero ou desalento.
 
Sinceramente: ninguém merece.

(*) E.mail: [email protected] 
 

Rodney Silva
Jornalista - MTB 14.759

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