Governo do Estado
convidou as entidades integrantes do SOS Hospitais Filantrópicos para
apresentar soluções para a crise na próxima segunda-feira (15).
Mais de 600 pessoas participaram – lotando os três
auditórios da entidade –, nesta terça-feira (09), da audiência pública
proposta pela OAB/RS, com o intuito de encontrar soluções para os
problemas que envolvem a saúde pública no Estado, em especial, à grave
crise que enfrentam os hospitais filantrópicos.
Responsáveis por
mais de 70% das internações do sistema SUS, as 239 unidades
hospitalares (filantrópicas e Santas Casas), acumulam dívidas superiores
a R$ 1 bi e um déficit de R$ 310 mi apenas em 2010. Segundo os
administradores, caso uma solução rápida não seja encontrada, muitos
correm o risco de fechar as portas.
"É preciso que a sociedade
gaúcha e brasileira tome conhecimento do que está acontecendo aqui, na
sede da Ordem. Nós demos um passo extraordinário, fazendo nascer um
movimento tão grande, capaz de dizer aos nossos governantes agora chega,
basta. Temos uma das mais altas cargas tributárias do mundo, e em
contrapartida recebemos serviços muito aquém do necessário. Não temos
saúde, educação nem segurança e estamos a um passo do colapso do
Judiciário", asseverou o presidente da Ordem gaúcha, Claudio Lamachia.
O dirigente da OAB/RS destacou, ainda, que "esse evento é um
presente que ganhamos em pleno mês do advogado, quando nossa atuação em
prol da cidadania consegue lotar nossos três auditórios, colocando mais
de 600 pessoas numa audiência pública para tratar de um assunto de tanta
importância para a sociedade".
A posição dos municípios O
presidente da Famurs, Mariovane Weis, destacou que os municípios estão
"esgotados", sem poder fazer investimentos maiores do que já destinam
aos hospitais.
Para o presidente da Confederação Nacional de
Prefeitos, Paulo Ziulkoski, o Rio Grande do Sul ocupa a 27ª posição, ou
seja, a última, no quesito investimento na área da saúde. Segundo ele, a
"ambulancioterapia", é o retrato do descaso do Estado com o tema e não
pode ser creditado somente aos prefeitos.
Marcelo Bosio,
secretário-adjunto de Saúde de Porto Alegre, ressaltou a necessidade de
uma atualização da tabela do SUS: "Sem uma adequação, não resolveremos o
problema da saúde, e os municípios seguirão sobrecarregados".
A posição dos hospitais"Estamos
aqui falando da vida de 7,5 milhões de gaúchos que tem apenas o SUS
para recorrer. Nós queremos atender estas pessoas, atender esta demanda
assistencial, mas estamos pedindo socorro para que isso possa
acontecer", afirmou o presidente do Sindicato dos Hospitais
Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, Júlio Dornelles de Matos.
Matos
continuou: "para resolver este problema de forma emergencial,
precisamos de R$ 100 milhões. E, é preciso que estes recursos venham com
um rubrica designando que sejam destinados a baixa e a média
complexidade, que é onde está o prejuízo das instituições".
Somente
em 2010, salientou Matos, para os 519 mil atendimentos realizados, os
hospitais acumularam um prejuízo de R$ 310 milhões. "Nós temos
capacidade de virar um modelo de saúde neste País, e não o exemplo
negativo que somos hoje", ressaltou o presidente.
Para Oswaldo
Balparda, presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais
Filantrópicos, a situação caótica em que se encontra a saúde no RS se
deve a anos de descaso, com gestão pública falha e negligente. "Não
somos saúde complementar. Aqui a saúde complementar é a pública. Somos a
referência e sofremos com anos de defasagem e desconstrução do
sistema".
A posição dos médicosFernando
Webber Matos, presidente do Cremers, afirmou que a falta de
investimento em saúde vem ocasionando um grave quadro de perda da
qualidade do atendimento destinado a população, além de ocasionar,
ainda, o fechamento de diversas unidades de atendimento. Matos ressaltou
o baixo investimento que o RS faz em saúde (apenas 4% do orçamento).
Clarissa
Bassin, diretora do Sindicato Médico do RS, também pontuou a
dificuldade enfrentada pelos profissionais com a deficiência das
condições encontradas nas unidades filantrópicas.
A posição dos empregados na saúdeSegundo
o presidente da Federação dos Empregados em Serviços de Saúde do RS,
Milton Kempfer, os profissionais que atuam nos hospitais enfrentam uma
situação dramática. Segundo ele, mais de 20 instituições fecharam as
portas nos últimos anos, deixando milhares de funcionários desamparados.
Em alguns casos, como as instituições não recolhiam os valores
destinados ao FGTS, as pessoas ficaram sem receber qualquer valor
rescisório ou mesmo direitos trabalhistas básicos: "Algumas ações duram
anos na Justiça e não dão em nada pois os imóveis não são arrematados
nos leilões".
"Nossos trabalhadores estão migrando para outras
profissões, pois as instituições estão sem poder pagar salários justos e
adequados a função que exercem", afirmou o presidente do Sindi-Saúde,
Gilmar França.
A posição do LegislativoRepresentando
a presidência da ALRS, o deputado estadual Pedro Westphalen, salientou a
participação da Ordem gaúcha em tema tão relevante. "A OAB/RS encampa
uma luta pela defesa de um dos temas mais importantes da sociedade".
Westphalen
afirmou que o Brasil investe apenas 3% de seu orçamento em saúde
pública, o mais baixo índice da América Latina. "A responsabilidade, que
é da União e do Estado, recai sobre as prefeituras e o resultado é o
caos. O governo deve mais de R$ 1 bi aos hospitais, os funcionários não
têm seus direitos assegurados, os médicos se recusam a trabalhar no
Interior, pois sabem que seus pacientes não terão acesso às condições
mínimas de tratamento", desabafou o deputado.
A posição do JudiciárioMartin
Schulze, juiz de direito e coordenador do Comitê Estadual da Saúde,
apresentou números recentes de uma pesquisa do CNJ, o qual aponta que
existem no País 240 mil ações envolvendo a busca ao atendimento de saúde
no Brasil. Destas, asseverou Shulze, "120 mil são oriundas do Rio
Grande do Sul".
Segundo o magistrado – e voz corrente entre os
demais participantes – o governo paga bem os procedimentos de alta
complexidade, mas os valores repassados para a baixa e média são
irrisórios, não cobrindo os custos do atendimento prestado pelas
instituições.
A posição do Conselho de AdministraçãoClaudia
Abreu, representante do Conselho Regional de Administração, destacou
que é preciso transparência ao governo para garantir que os recursos
sejam realmente aplicados na saúde.
A posição da Defensoria Pública"O
problema de gestão está nas escolhas que se faz", afirmou a defensora
pública, Paula Pinto de Souza, dirigente do Núcleo de Tutelas da Saúde
da Defensoria. Paula apontou ainda as dificuldades que o cidadão
encontra para acessar o sistema. "É preciso simplificar o sistema, que é
extremamente burocrático".
A posição do governo do EstadoO
secretário estadual de saúde, Ciro Simoni, afirmou estar enfrentando,
hoje, uma realidade que conhece bem – é médico com mais de 30 anos de
atuação em hospitais filantrópicos – e comprometeu-se a buscar uma
solução ao problema. "Estamos fazendo um esforço dentro do orçamento que
recebemos, feito no ano passado (gestão anterior), e tentando ajustar
esta situação. O Estado não se negou e não irá se negar ao diálogo. Nós
faremos a nossa parte", afirmou o secretário.
Ciro trouxe consigo
um ofício do Governo do Estado, solicitando uma reunião com o grupo de
entidades integrantes do movimento SOS Hospitais Filantrópicos, para
apresentar os possíveis caminhos possíveis para uma solução ao tema. O
encontro ocorrerá na segunda-feira (15), às 14h, no gabinete do
vice-governador, Beto Grill.
Os participantesCentenas
de trabalhadores da área da saúde, prefeitos de dezenas de cidades do
Interior do Estado, dentre eles Adolfo Fetter Jr, de Pelotas, o
presidente da Associação dos Secretários Municipais da Saúde, Arilson
Cardoso, o presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores,
Thiago Duarte, a presidente do Sinapers, Ilma Truylio Penna de Moraes,
além de representantes de instituições de saúde de todo o Interior
gaúcho.
Clique aqui e confira as fotos do evento em alta resolução.