Ipsis litteris


29.05.07 |

Por Ingrid Birnfeld,
advogada
 
Em audiência criminal, no foro de uma comarca do interior do Paraná, o juiz iniciou o interrogatório do réu, denunciado por lesões corporais graves.
 
Atuava como escrivão um senhor idoso, bastante cansado do ofício de décadas e às vésperas da aposentadoria, datilografando quase que mecanicamente o que era ditado pelo magistrado.
 
Descrevendo os fatos que o levaram a praticar as agressões, o réu tentou se justificar referindo-se à conduta da vítima antes do incidente:
 
- Doutor, ele chegou quando eu bebia uma cerveja no bar sem incomodar ninguém, me provocava sem razão e eu me defendia, até que ele me disse “você é um filho da p...”.
 
Enquanto as palavras do réu terminavam de ser transcritas para a ata, um servidor ingressou na sala e solicitou a assinatura do juiz em alguns alvarás e despachos, o que interrompeu a audiência por alguns minutos. 
 
Assinados os documentos, o juiz se dirigiu ao escrivão e, determinando o prosseguimento do interrogatório, lhe perguntou:
 
- Onde estávamos?
 
Ao que o escrivão, enfastiado, sem se dar conta, deixando o magistrado sem reação, fielmente respondeu:
 
- Pois não, doutor, “você é um filho da p...”.