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Publicado em 21.05.07

Um negócio do Brasil - Artigo de Joaquim Saturnino da Silva


Por Joaquim Saturnino da Silva,
advogado (OAB/SP nº 184.718)
 
É correto dizer agora “um negócio do Brasil!”, em lugar da antiga expressão “um negócio da China”, que era utilizada para designar um raro negócio de ocasião, daqueles em que as vantagens são imensas.
 
Esta situação já era esperada desde quando foi realizada, às pressas, a abertura do mercado que nos lançou, sem o menor preparo, na globalização. Setores industriais inteiros sofreram na época, notadamente o setor têxtil. Com a entrada dos produtos asiáticos no mercado, a preços mínimos, a quebradeira foi geral, como se diz, num efeito dominó.
 
É claro que às industrias cabe parte da culpa pela crise, pois se tivessem investido na infra-estrutura e na formação técnica de seus empregados, o dano seria minimizado, não resultando no desemprego em massa e na conseqüente crise econômica, que todos conhecemos muito bem.
 
Desde aquela época já se poderia falar em “um negócio do Brasil !”, pois foi exatamente a China que mais vantagem levou – e ainda leva – na história toda. Mas agora é oficial. As trapalhadas nas “negociações” com a Bolívia transferem para aquele país, graças às loucuras administrativas do senhor Evo Morales, grande parte do dinheiro dos brasileiros, como se fôssemos o país mais rico do mundo a posar de grande benemérito universal. Seria este o significado real daquele velho bordão “celeiro do  mundo”?
 
Somos o “país do futuro”, dos outros!
 
E não será de espantar, se viermos a fornecer etanol para os EUA e outros a preço vil, com sobretaxa de importação e tudo o mais, em detrimento do trabalhador bóia-fria nos canaviais brasileiros e sua miséria sistêmica. Sem chance, sem saúde e com fome, tendo apenas o envelhecimento precoce e morte idem, como único e demasiadamente curto destino.
 
Mas não devemos nos preocupar, pois nossos dirigentes sempre possuem as palavras certas e as metáforas baratas, para realizar seus shows de prestidigitação. Mestres na arte de enganar, tirando coelho da cartola, sem ter o coelho e muito menos cartola. E todo mundo acredita!
 
Que “negócio da China,” que nada! Agora existe, oficialmente  “um negócio do Brasil !”.
 
Não importa que existam milhares de crianças à margem da sociedade, esmolando nos semáforos da vida, ou pior, furtando e cheirando cola. Crianças que só conhecem a escola, de ouvirem falar.  Crianças, cuja existência é utilizada para enriquecer oportunistas com campanhas fictícias, tendo uma única coisa sólida: o dinheiro arrecadado que em seguida desaparece. Pois a quantidade destas  crianças, nestas condições, continua a aumentar numa progressão geométrica.
 
Mas precisamos ajudar a Bolívia!
 
Precisamos entender que solidariedade e burrice são coisas distintas, embora neste caso específico, ambas as palavras se apresentem como sinônimo.
 
Claro que na outra ponta temos o povo boliviano que acabará pagando pelos desatinos de um louco populista, não muito diferente dos nossos loucos que nos carregaram até este presente de grego, que temos a ousadia de chamar de sistema político.
 
Enfim, enquanto o cérebro da maioria das pessoas realizam sinapses entre seus neurônios, os cérebros de nossos dirigentes – e grande parte dos políticos –  realizam “inépcias”.
 
Acabaram, por uma questão de sentimento humanitário, com a Farra do Boi, mas ampliaram a mais perversa delas: a farra com o dinheiro público, cuja manutenção se realiza através de uma perversa e crescente carga tributária.  E só nos resta agora, aguardar para ver como Estado fará, quando acabar de matar as galinhas dos ovos de ouro. Confisco?
 
Para quem estiver no poder será, sem dúvida, “um negócio do Brasil!”
 
Impossível dormir com um “barulho” desses.
 
(*) E.mail: [email protected]