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Publicado em 25.07.13

A condição da mulher na sociedade contemporânea


Delma Silveira Ibias, presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB/RS e conselheira seccional 

Recentemente, com muita honra, assumi a presidência da Comissão da Mulher Advogada da OAB/RS, gestão 2013/2015, onde ressaltei, em meu pronunciamento que um dos compromissos da ordem é continuar sendo protagonista da discussão dos grandes temas relacionados à cidadania, dentre os quais destaquei a violência contra as mulheres e as atuais condições de sua inserção no mercado de trabalho.

No dizente a violência contra as mulheres, problemática que não podemos dar trégua, pois a morte de mulheres gaúchas nos últimos meses, vítimas de violência praticadas por seus companheiros ou ex-companheiros, aterrorizam a todos nós.

E isto é uma realidade a ser enfrentada pela nossa Entidade, pelo Estado e por toda a sociedade, pois ainda vivemos uma realidade machista e preconceituosa, minada por uma lógica sexista que banaliza a violência intrafamiliar, problema cultural que urge ser modificado.

E a Ordem como entidade civil e através da Comissão da Mulher, estará à frente das lutas sociais em defesa da igualdade de gênero e cobrando e auxiliando os órgãos estatais, cumprindo, assim seu papel na articulação e mobilização, para garantir a transversalidade de gênero nas políticas implementadas pelos entes públicos.

Por isso, as políticas de apoio às mulheres terão espaço na Ordem, através da Comissão da Mulher. E não é só a violência doméstica e psicológica intrafamiliar, que destacamos como grande tema relacionado à cidadania, mas precisamos estar atentos, também, quanto à violência profissional frente ao mercado de trabalho.

Recentes pesquisas sobre o mercado de trabalho brasileiro apontam que o sexismo tão arraigado na machista cultura brasileira mostra-se também presente nas organizações empresariais.

Apesar de, em muitas vezes, mais bem qualificadas, as mulheres ainda recebem remuneração inferior a dos homens, o que aponta para duas questões sociais muito importantes: a reavaliação da figura feminina contemporânea e a baixa valorização dessa mão de obra.

O papel da mulher ao longo da história foi se modificando à medida que a sociedade flexibilizou sua estrutura,  e os patriarcais provedores do lar foram cedendo espaço a mulheres aguerridas que trabalham fora, educam filhos e administram lares.

Hoje essa realidade atinge seu ápice de desenvolvimento: o público feminino tem se qualificado cada vez mais e agrega ao papel de filha, esposa e mãe o papel de profissional bem-sucedida, apesar da discriminação.

Em recente pesquisa da organização internacional do trabalho – OIT, 90,7% das mulheres brasileiras empregadas conciliam trabalho profissional com a totalidade dos afazeres domésticos, enquanto que menos da metade dos homens, ou seja, 49,7%, inseridos no mercado de trabalho dedicam tempo a algumas tarefas domésticas.

As mulheres trabalham semanalmente 36 horas em sua profissão fora do lar e 22 horas em afazeres domésticos, enquanto que os homens laboram por 43,4 horas no escritório e apenas 9,5 horas em afazeres domésticos.

No tocante aos salários na iniciativa privada, as mulheres ganham 70% do que ganham os homens, para exercerem as mesmas funções. Há décadas as mulheres abandonaram a figura de "sexo frágil" e tornaram-se personagens à frente da sociedade, das empresas e das profissões liberais, cabendo, assim, tratamento igualitário ao propagado "sexo forte".

A mão de obra feminina tende a ser mais qualificada tanto pela disciplina estimulada desde a infância quanto pela necessidade de desmistificar o estereótipo de sexo frágil.

Grande parte das empresas, apesar de admitirem a existência de um excedente na qualificação de mulheres em relação aos homens, ainda trazem em sua formação uma postura machista premiando com melhores salários e melhores cargos os homens, pela firmeza, pelo bom poder de negociação, pela força física, renegando a possibilidade dessas características estarem presentes nas mulheres, que por vezes são mais persistentes, fortes e negociadoras, apenas pela escolha de entrar no mercado de trabalho.

As mulheres não são frágeis, ao contrário, são sensíveis mas fortes, criativas, inteligentes e perspicazes, mas ainda sofrem com o preconceito, a discriminação e a violência.

Afirma Sheryl Sandberg, a mais alta executiva do Facebook, em sua recente obra: Faça Acontecer, que as mulheres precisam aprender cada vez mais a agirem como profissionais, pois as mulheres agressivas, ambiciosas e que jogam duro em seus postos profissionais, são tidas como transgressoras das regras tácitas da conduta social aceitável.

Os homens são constantemente aplaudidos por ser ambiciosos, poderosos, bem-sucedidos, ao passo que as mulheres com as mesmas características costumam pagar um preço social alto por isso.
As realizações femininas nos custam caro!

Portanto, a nossa caminhada à frente desta Comissão é pela busca do empoderamento, da igualdade, da liberdade, da autonomia e da participação da mulher em todos os segmentos pessoais e profissionais, observando os preceitos de cidadania e o estado democrático de direito em suas mais variadas dimensões.

Com maestria a festejada Simone de Beauvoir exclamava ser o mais escandaloso dos escândalos àquele a que nos habituamos.

Portanto, não nos habituemos com a violência, o preconceito e a discriminação contra as mulheres e que isto seja o mote do trabalho desta Comissão, vez que queremos testemunhar homens e mulheres, andando juntos, lado a lado, concretizando a merecida, igualitária, justa e fraterna convivência social contemporânea.